O que é melhor, ter um livro em branco ou um livro preenchido? Ambos tem lá suas vantagens e desvantagens, cabendo ao dono da sorte interpretar o que lhe foi dado e fazer o melhor possível disso.

A Família Tao começou toda essa jornada cumprindo um dever que escolheram – mesmo confusos sobre a validade do que faziam -, mas ao longo do caminho, o contato que tiveram com vários personagens permitiu que eles obtivessem mais respostas e entendimento do que realmente os cercava naquela estranha realidade.

Curly, Loki e toda a Igreja de Fortem, representam um lado revolucionário e de certo modo coerente para quem observa toda a construção daqueles mundos. O que acontece no entanto é que eles são bem unilaterais, invalidando assim sua posição e isso fica confirmado nesse episódio, com o ataque final na zona de Alice – agora transformado no mundo inverso de além do espelho.

Infelizmente chegamos ao fim e não tivemos um flashback decente para Reina, mas em todo caso ao menos conseguiram explorar um pouco do que ela sentia em meio a suas aventuras. A sacerdotisa tem um forte senso de que deve ser inabalável pra vencer o mal, carrega mais perdas do que podia suportar e ainda se sentia só, mesmo acompanhada de seus amigos – já que sempre imaginava o segundo em que podia perder a todos, como perdera antes.

Ver Alice ser levada e ter seus amigos divididos naquele momento do ataque de Loki e seu Jaguadarte, fez com que Reina “quebrasse”, cabendo a Ex o papel de acalmar a companheira de batalhas. As palavras de Ex reforçam não só a amizade entre eles, como o papel de importância que ela tinha em mostrá-lo o significado de ser um sem destino no meio das histórias criadas.

O reencontro da equipe – com todos inteiros felizmente – e o avanço para a fortaleza de Curly mostram duas coisas, a primeira é que infelizmente a história ficaria com buracos que não iam ser tapados, incluso os novos que puseram no último episódio. O mundo de além do espelho não ficou bem explicado e simplesmente me soou apenas como um universo paralelo com cópias dos personagens e onde as coisas seriam inversas, eu creio.

Já a outra informação é que a intenção do anime nunca foi de fato criticar por completo a postura do Story Teller, assim como percebíamos nas falas de cada um nas diferentes zonas. Existia um erro nos contos, existia! Os personagens tinham destinos duvidosos e até mesmo crueis, tinham! Eles eram infelizes mesmo com tudo isso? Não – pelo menos não por completo, as dúvidas eram constantes, mas a infelicidade total passa longe.

Curly pretendia tomar o poder porque como previ, ela queria ser o “Magneto” dos personagens em branco, alegando seu sofrimento, sua dor – experiências pelas quais os outros também passaram – e a injustiça que eles sofriam por não ter uma determinação de roteiro. Isso soa até irônico vindo de alguém que apontava as predestinações como uma falha.

O que ela esquecia é que assim como comentou em outros momentos, os que estavam fadados aos livros também tinham seus questionamentos, logo não eram menos merecedores de uma nova chance do que ela e os seus – na verdade se formos olhar mais amplamente, a posição de estar “livre” me parece um pouco mais confortável colocando na balança o conjunto dos pesos e medidas.

O Jaguadarte como boss quase final é uma adição bem interessante e que eu gosto – mesmo ele não oferecendo um risco real -, porque ele traz uma outra situação, o sentimento daqueles que navegam entre os dois pólos dessa história. Ele é fruto de um poema do mundo de Alice ou seja, é um tipo de obra menor, o que confere menos visibilidade e o torna mais solitário e depreciado que os protagonistas conhecidos – revelando que ter sido escrito, mas ainda permanecer ignorado também não ajuda muito.

Sabendo que seu aliado não seria suficiente, Loki estava ali para tornar a ambição deles possível e fez uso da armadilha mais cruel possível, colocar um amigo contra todos. Ele se vale da versão caótica do Aladdin e sobrepuja todos, até que o anime decide abrir mais um buraco e insere um personagem inesperado em seu momento “ex machina”: Ludwig Grimm.

Grimm literalmente humilha Loki e arrasa o inimigo em poucos movimentos, ele não esclarece quem é para os demais ali, mas fica óbvio a nós aqui fora que ele certamente é o Story Teller – achei que a forma como ele venceu foi bem “nonsense”, com uma chuva de doces explosivos.

O que me incomodou um pouco nesse final foi o fato de que o anime se encerrou deixando brechas com coisas que poderiam ter ficado no off – já que não tinham explicações para o momento e muito provavelmente não vai ter continuação. Curly e seus aliados sobreviveram, não sabemos quase nada sobre quem ou quantos são, a batalha acabou temporariamente e agora temos um personagem novo que não disse muito e só veio pra dar o adeus.

A Família Tao segue seu rumo como protetora do mundo das histórias e Grimms Notes se despede como uma história apenas ok, que cumpre bem o papel de entreter aqueles que buscam uma história simples e com um toque RPG em sua essência. Creio que para quem conhece o jogo, as mudanças e falhas tenham incomodado, mas para os iniciantes como eu, o resultado final é satisfatório.

Acabou, mas não para eles

Obrigado a todos que leram os artigos desse anime até o fim e que venha a próxima temporada!

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