Mei era alguém que sofria no mundo em que vivia por ser quem era – e com dons especiais -, uma garota que precisava de amor, mas que amor ela de fato precisava?

Do amor daqueles que a rejeitavam? Talvez o de um par romântico – no meio dos 7 ou 8 que ela tinha a mão? Ou era o amor próprio que ela devia cultivar por si mesma, afim de dar passos a frente e construir seu futuro com suas pernas e braços?

Bom, acho que ao longo dos seus 12 episódios Meiji Tokyo Renka nos deixou bem claro qual era resposta.

Mei Ayazuki nasceu com a extraordinária habilidade de se comunicar com seres espirituais e isso a levou a um ponto em que ela passou a ser tomada por esquisita e com isso se afastando das pessoas por completo.

Voltar ao passado foi a forma que Charlie encontrou pra mostrar a protagonista um novo caminho, onde ela seria capaz de viver experiências que a tornariam apta a mudar seus horizontes e assim chegar numa conclusão decente sobre seu destino – algo que eu vejo próximo do caminho de Irozuku Sekai no Ashita kara, ainda que completamente distintos no geral.

De começo a proposta inicial pode parecer boba por ser proveniente de jogo e ainda mais um harém inverso – do qual muitos fogem pelas adaptações questionáveis já espalhadas por aí -, mas Meiji Tokyo Renka surge pra nos provar que nem todo chocolate comum é só gordura hidrogenada.

A primeira coisa que vale salientar é a força da protagonista, essa que cresce bastante ao longo do tempo em que ela permanece no passado. Embora estivesse se isolando, Mei é extremamente carismática, solidária e prestativa e comilona, ela também vai nos mostrando que sabe se mover quando necessário e isso é um fator positivíssimo pra o andamento do que a história quer contar e trabalhar.

O harém masculino também tem seu valor, porque apesar de serem indíviduos de personalidades unilaterais e caricatas, eles tem algumas características particulares – uma delas é o respeito ao espaço da protagonista e ao romance alheio, por mais que a vontade de ser escolhido pela Mei fosse grande – e camadas que os tornam mais simpáticos e agradáveis, sendo essas mostradas ao longo da trama dentro do que é possível.

Acompanhamos pessoas que embora aparentem estar bem consigo mesmas, possuem certos “fantasmas” que os assombra e esses estão relacionados com o sobrenatural ao qual os dons de Mei tem acesso. Nisso ela acaba entrando como um fator essencial para solucionar os mistérios e dramas internos de cada um – que apesar de desenvolvidos em pouco tempo, conseguem nos passar consistência em sua apresentação.

Mori Ougai enquanto rota escolhida para nossa heroína, se mostra uma decisão acertada. Além de ter um ar mais centrado e equilibrado em relação aos outros, ele é aquele que melhor compreende os sentimentos de Mei e que a permite desabrochar na flor que ela se torna ao fim da série.

Ele transmite confiança, inspira nela o desejo de mudança, abre espaço para que ela se sinta acolhida e veja que mesmo existindo no mundo afora quem a despreze, sempre haverão os que vão dar uma oportunidade a ela e amá-la pelo que é – o que acaba acontecendo entre eles.

O anime como era de se esperar nos trás a possibilidade do romance, no entanto apesar de bem desenvolvido, percebemos que não é esse o seu intuito final.

O espaço que a protagonista vai abrindo e conquistando nos corações afora, é uma forma de ela ver o seu potencial e o que pode alcançar, a partir do momento que passar a se dar o devido valor e tomar as rédeas de sua vida.

Mei vai evoluindo de uma garota “covarde”, para alguém mais forte e que sabe o seu valor, sabe que pode mudar as coisas ao seu redor apenas se tentar dialogar e agir – ensinamento que é valido para todos nós.

De forma geral foi um anime que peguei na esperança de que se aproximasse das boas experiências que tive com outros haréns históricos como Nil Admirari no Tenbin e Code: Realize – Sousei no Himegimi, e não fui decepcionado – ainda que eu imaginasse alguns caminhos diferentes.

Toda a construção da Tóquio antiga se mostrou bem interessante quando foi trabalhada e a ambientação e composição das coisas é legal, principalmente nos momentos em que inseriam elementos benéficos para aquela era. A série não prometeu excessos de exposição histórica e nem se comprometeu em burlar a lógica original, mas buscou seu próprio caminho na interpretação daquele contexto e nisso ela foi sólida do começo ao fim.

Em Meiji Tokyo Renka eu ri bastante a dancinha da Mei foi 10/10, me empolguei com o romance, vi os personagens buscando o caminho do crescimento e alcancei uma conclusão satisfatória, que reforçou bem a mensagem que o enredo pretendia passar com todas as experiências vividas pela nossa protagonista e seus novos amigos.

Só por ela a caminhada já valeu a pena, o resto é bônus

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