Ruki-san é a estrela do 4º episódio de Comic Girls. Para ela, uma verdadeira montanha-russa de sentimentos. Os dispositivos emocionais acionados pelo receio de como é encarada a sua arte pelos outros estão presentes desde o episódio inaugural. Vergonha sendo o principal desses sentimentos. O seu talento para criar histórias românticas e eróticas e desenhar figuras sensuais fez com que obtivesse destaque no mundo das mangakás. Uma revelação com a sua primeira serialização já caminhando na bem-aventurança da aceitação do público. Não é fácil para uma jovem que desejava produzir algo próximo de “garotas fofas fazendo coisas fofas” ou ilustrações com animais esbanjando meiguice, dedicar-se a novelas com conteúdo explícito. Ruki é dedicada ao seu trabalho, mas tem que lidar com os altos (reconhecimento) e baixos (a inadequação que sente em decorrência da diferença entre o seu eu e a sua persona) da vida.

Mais uma vez há um equilíbrio notável entre seriedade e humor em Comic Girls. Todo o drama de Ruki é acompanhado por uma linha fina de comédia, o que contribui para dar leveza à série e ampliar a caracterização das personagens. A dinâmica das relações entre as garotas ao mesmo tempo que consolida os vínculos abre espaço para a evolução delas, com novas dificuldades a se superar, seja na vida pessoal ou no que diz respeito à arte.

Ruki tem que enfrentar dois desafios em sua jornada de autoafirmação (que certamente não está completa, mesmo com o progresso vivido nesse episódio). Na primeira metade, o modo como seu mangá erótico afeta Koyume e Kaos. As meninas propõem ajudar no manuscrito, já que Ruki anda privada de sono devido ao prazo de entrega do novo capítulo de sua série. A mangaká de material ecchi tem a vergonha duplicada ao pensar na possibilidade delas interagindo com a produção. Nem mesmo Tsubasa é autorizada a colaborar com a finalização das páginas. E o fato das novatas estarem sempre associando (devaneando livremente) a Ruki-pessoa com a Ruki-autora, não a encoraja a pedir que a auxiliem com o trabalho. Porém, lá estão Koyume e Kaos para vencerem o pudor e apoiar Ruki para que o cansaço não a abata ainda mais. E ao aceitar a ajuda, Ruki tem que superar a vergonha por deixá-las se deparar com algo, segundo suas palavras, tão indecente.

O medo de Ruki que o seu mangá erótico cause uma tragédia na família.

O início do processo é repleto de descompasso entre o oferecimento de colaboração e a reação delas quando veem os desenhos lascivos. Os choques incontroláveis têm como efeito aumentar o constrangimento de Ruki. Koyume, a partir do embaraço que sente por Tsubasa ver os desenhos (a menina posa para Ruki, logo a protagonista guarda semelhança com ela), decide colar a retícula das páginas mais intensas. O gesto dela a faz descobrir que, para além das cenas eróticas, há na série de Ruki uma bela história de amor. No fundo, um shoujo (mas com sexo) como os da própria Koyume.

Kaos, super à vontade em seu território, ensinando Ruki sobre informática.

E quando a sensação de inutilidade já esmagava Kaos (afinal, não conseguir encarar os desenhos lúbricos a impediam de ser uma assistente eficiente), ela descobre que Ruki tem um computador e que não soube montá-lo. O que rende humor com a falta de habilidade de Ruki com a tecnologia. A bela, dedicada e distraída Ruki confunde o PC com uma cadeira. Esse momento proporciona a Kaos atuar no espaço em que se sente confortável, já que conhece informática, seus desenhos são digitais. Ela tem total domínio sobre programas de ilustração. Logo, algo em que Kaos é excelente concede-lhe um instante de êxtase, que é o reconhecimento de sua admirada Ruki. E esse auxílio faz com que Ruki acabe por chamá-la de sensei. E a imaginação da menina vai longe em seguida, fazendo-a fantasiar com a mangaká ecchi no papel de uma secretaria que será punida por sua chefe, que é, nada mais nada menos, a própria Kaos (os devaneios libidinosos da jovem são suficientes para confirmar seu amor pelas mulheres).

A imaginação de Kaos: uma menina um tanto fetichista.

Na segunda metade do episódio, o medo de Ruki de aparecer publicamente se impõe como um desafio. A sua editora revela que ela precisa comparecer a uma sessão de autógrafo. A notícia a fez entrar em pânico. Sentimentos variados se manifestam quando Ruki pensa que terá que ficar frente a frente com seus fãs. A vergonha, o temor de revelar sua identidade, a censura pública – já que obras eróticas são carregadas de estigmas – e a discrepância entre Ruki e seu pseudônimo Peituda Himeko-sensei assombram a jovem autora.

O drama da sessão de autógrafos amplifica os conflitos internos de  Ruki. A moral vigente a chamaria de “safada” e “destruidora de lares”. Além disso, a decepção dos fãs ao saber que Himeko, na verdade, é uma garota esbelta, sem a experiência de vida que seu mangá parece indicar, está no horizonte. São situações quase claustrofóbicas. Ruki não consegue controlar a ansiedade. Nem mesmo a lembrança de que Tsubasa não pode autografar publicamente os mangás shounens que desenha, já que ela esconde o fato de ser uma garota, tranquiliza-a a ponto de pensar que tem sorte por estar no ponto em que se encontra.

Quando a situação já parecia incontornável, com Ruki já conformada com a sua revelação pública e possíveis frustrações (a cena dela em frente ao espelho experimentando diferentes modos de cobrir o rosto com os cabelos é bem melancólica), entra em cena a zeladora Ririka Hanazono que apresenta a Ruki o valor de transformação que a maquiagem pode promover. Diante dos olhos das garotas, a garota se torna uma mulher de mais de 20 anos. A maquiagem tem o poder de mudar as feições de uma pessoa. No caso de Ruki, deixa-a com aspecto mais maduro, é uma versão da mulher que será no futuro. Além de oferecer a solução para a aparência de Ruki, Ririka se declara fã da obra da jovem, enfatizando as emoções que a história gera em suas leitoras. O afeto e o cuidado da zeladora aquietam Ruki.

Ririka fazendo surgir a mulher que há em Ruki. Nasce “Peituda” Himeko-sensei.

Na sessão de autógrafo, a confiança que Ririka lhe deu surte efeito é quadruplicada quando uma das fãs (jovens mulheres de todo tipo e de todos os lugares) a chama de Himeko onee-sama. Ruki assume sua persona e se concilia com o mangá ecchi que cria. Se o seu talento antes era vivido como um peso a se carregar, marcado pela vergonha, no dia mais feliz de sua vida, Ruki sente orgulho e vislumbra uma relação mais prazerosa com sua outra metade (Himeko) e o conteúdo de sua arte. Popular e adorada pelas fãs, Ruki pode caminhar com segurança na vereda do erotismo. Elas podem fazer as pessoas se sentirem felizes.

As ansiedades e os caminhos profissionais das mangakás rendem dramas e humor. Houve um avanço nesses quesitos, o que tornou o episódio excelente. Além disso, a animação entrega belos momentos, como na transformação de Ruki em uma mulher, quando há um corte e uma borboleta é mostrada, dando a ideia que a garota esteja saindo de seu casulo (não relacionado a sua beleza, mas a confiança que começa a adquirir).

O encontro com as fãs faz Ruki perceber o quanto seus esforços valeram a pena. Himeko onee-sama!

O modo como Kaos estima Ruki também chama a atenção. A menina admira e se sente atraída pela garota-profissional, confundindo muitas vezes autora-pessoa (muitas vezes revela isso em voz alta sem perceber). Há cenas engraçadas quando a lassidão vence Ruki na escola e tudo que faz – derrubada pelo sono – ganha contornos lascivos de maneira involuntária. E também quando Kaos faz o papel de bichinho de pelúcia para a exausta Ruki, que não consegue dormir sem abraçar o seu companheiro fiel.

O desenvolvimento dessas personagens tem se mostrado um ponto alto da série. Para os próximos episódios espera-se novas confusões, dramas e comédia. Comic Girls segue reforçando que sonhar não custa nada. Ou melhor, custa crises de pânico e comicidade.  

  1. Esse episódio foi sensacional,chorei junto com a personagem no final.Também achei uma verdadeira quebra de paradigma o fato de todas as fãs dela(que escreve HENTAI!!) serem todas mulheres(e não são julgadas por isso),muito legal mesmo.Esse anime só melhora a cada episódio!ótimo post!^^

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