Acredito que assistir esse spin-off já tendo visto as duas temporadas de Kaiji seja melhor, mas eu não as vi e consegui entender bem o anime. Na história acompanhamos Tonegawa, diretor de operações e vice-presidente do Grupo Teiai, que enquanto quer subir na carreira tem que obedecer aos mandos e desmandos do presidente do Grupo. E o que há de interessante na vida diária de um cara de meia-idade que trabalha em uma empresa? O tom de paródia, a promessa de jogos interessantes e o tédio do Presidente devem ser cruciais para tornar o anime divertido – como foi um pouco em sua estreia.

“Enquanto você viver eu estarei lá pra receber o dinheiro.”

Algo que me chamou atenção logo de cara – após a longa introdução que conecta Kaiji a esse anime, é verdade – foi o fato de todos os personagens terem narizes bem destacáveis, além de rostos com contornos marcantes e formatos bem definidos, o que me parece ser uma caraterística do universo de Kaiji como um todo. Deve vir do traço do autor do mangá, mas também acontece em Tonegawa, mesmo o traço do mangá não sendo dele. Algo semelhante ocorre em Karakai Jouzu no Takagi-san, em que as testas são bem marcantes, e em Boku no Hero Academia, cujo autor já declarou ter uma verdadeira obsessão por desenhar mãos – e isso foi transposto para o anime. É tipo o Tite Kubo de Bleach desenhando fundos brancos, uma de suas marcas registradas. Enfim, deixando esses detalhes de lado, o que a estreia nos entrega são cobranças de homens de preto e uma reunião (quase) chata.

Não dá pra negar que esses narizes e o formato desses rostos são bem marcantes, né.

Achei que a narração exagerada, assim como os efeitos de som tão exagerados quanto, foram bons artifícios de imersão usados para tentar fazer com que o público entrasse para a história, para não levar ela tão a sério, para sacar que em parte é paródia. As cenas que têm tom cômico também são usadas para isso e, apesar de eu não ter achado elas tão engraçadas, não foram assim tão incômodas ou ruins para tornar essa estreia um fracasso. Contudo, esse episódio sofreu do mesmo problema do primeiro de Baki, não apresentou nada de tão interessante ou chamativo para fisgar o telespectador.

Há algumas boas sacadas, o protagonista não foi tão ruim, mas foi um começo bastante modesto, o momento mais emocionante foi a introdução, que teve mais de Kaiji do que de Tonegawa em si, mas não posso deixar de elogiar um ponto positivo: qualidade de produção. O estúdio responsável pelo anime é o Madhouse, que animou as duas temporadas de Kaiji, e parece ter um carinho especial pela série, o que me dá esperanças de que o anime fique bem mais divertido quando começar o tal jogo para matar o tédio do Presidente. Aliás, o Tonegawa ter um intelecto afiado, mas ter problemas para memorizar nomes de subordinados, foi uma forma cômica e válida de mostrar que ele tem fraquezas, que apesar de ser o segundo no comando isso não quer dizer que não possa passar por dificuldades dentro ou fora da empresa. Estou ansioso para ver como um engravatado ambicioso lidará com isso!

Um manda-chuva ficar entediado e usar dinheiro e subordinados para se divertir é coisa recorrente em ficção e abre portas para jogos mirabolantes e emocionantes que podem muito bem combinar com o tom de paródia presente nesse primeiro episódio, mas também pode destonar bastante caso não se ache um equilíbrio entre seriedade e comicidade. Eu quero me divertir com esse spin-off e acho que não preciso sequer conhecer Kaiji para tal – e espero que quem o fez ache isso também.

É isso o que eu quero ver mais nesse anime, esses jogos da escória

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