Bom dia!

Pronto para as primeiras impressões da melhor estreia da temporada? Se sou eu quem está escrevendo certamente é porque é um excelente anime. Quero dizer, ok, eu escrevi as primeiras impressões de Dorei-ku também. Não consigo imaginar aquilo sendo sequer a mosca do cocô do cavalo de um excelente bandido, que dirá um excelente anime por conta própria. Por outro lado, também escrevi as primeiras impressões de Megalo Box, e você duvida que ele será excelente?

Estou dizendo: Hisone to Masotan tem tudo para ser excelente. Só confia.

Com roteiros de Mari Okada, a mesma de Anohana, Gundam Orphans e Kiznaiver, a expectativa é alta para um dramalhão de qualidade. Por outro lado, ela também escreveu Koufuku Graffiti, M3 e Mayoiga, então não é exatamente garantido. Mas esse primeiro episódio entregou o que prometeu com sobras!

Hisone acaba de se formar no ensino médio e é claramente uma garota introspectiva, ao mesmo tempo em que algo dentro dela parece estar pegando fogo, como se quisesse explodir e voar e pilotar um dragão e espera um pouco estou me adiantando um pouco nos fatos. Hisone é uma garota introspectiva, e não parece se sentir mal consigo mesma por isso, mas parece sentir que talvez o mundo esteja passando e ela esteja ficando para trás. Amigos? Ela não parece ter nenhum. Que lembranças ela terá de uma fase da vida tão importante? E culturalmente no Japão a vida de estudante é realmente importante, se os animes me ensinaram qualquer coisa. Mas para Hisone, ir para faculdade certamente seria só mais do mesmo. Ela quer mais.

Que vida

Talvez estivesse brincando, ou provocando, talvez estivesse falando sério, o fato é que em seu questionário de ambição para o futuro escreve que deseja entrar para a Força Aérea de Auto-Defesa do Japão após ter visto um jato atravessar o céu. Para alguém sem amigos, de pouco trato social, um ambiente cheio de pessoas para onde quer que se olhe, como uma escola, pode ser uma verdadeira prisão. Hisone enxerga a liberdade além da janela de sua classe, e mais longe ainda, no céu distante.

De alguma forma ela realmente vai parar na Força Aérea. É supostamente só um emprego temporário de um mês, mas ei, ela está lá. Cercada de pessoas e de tarefas entediantes, porque assim é a vida real. O jato no céu era só uma ilusão, ela não conseguiu a liberdade que desejava. Ainda não, pelo menos, porque algum tipo de teste de compatibilidade secreto foi realizado e ela foi considerada apta para pilotar! Não o jato que ela viu rasgar o céu, mas algo ainda mais fantástico: um dragão!

Não foi isso que ela pediu

Mas de novo isso é a vida real, e nada é tão fácil quanto parece. Ela continua cercada de pessoas. Ela continua sendo bombardeada por informações. Ela continua tendo pouca agência em sua própria vida e tendo de fazer apenas aquilo que a mandam fazer. Ela é engolida viva pelo dragão. E depois vomitada. E o pior é que isso não foi um acidente. Bom, foi um acidente, mas o procedimento padrão para pilotar dragões é esse mesmo: ser engolida. E depois vomitada (ou coisa pior). Não foi para nada disso que ela se inscreveu quando ela viu aquele jato voando no céu. Para completar, ela descobre que tem uma companheira de trabalho delinquente que não tem a menor restrição em dizer que pretende fazer bullying com ela. Ótimo.

Definitivamente não foi isso que ela pediu

A Hisone pode ser introspectiva, mas ela não é covarde ou tímida. Se eu consegui entendê-la, diria que ela é do tipo que se sente sobrecarregada com interações e prefere apenas concordar ou aceitar ou qualquer outra ação que seja a menor rota para encerrar o contato com outras pessoas o mais rápido possível e sem criar nenhum conflito. Mas ela tem aquela chama dentro dela. E essa chama agora está furiosa com tudo o que está lhe acontecendo e todas essas pessoas e esse dragão a empurrando de um lado para o outro e não mais do que de repente ela estoura. Viu só? Ela não é covarde. Hisone disse tudo o que tinha que dizer e mais um pouco para todo mundo. Hisone vai embora. Definitivamente não foi para nada disso que ela se inscreveu.

É frustrante voltar para casa de mãos abanando, mas ela já teve mais do que o bastante, há de ser melhor assim. Ela não aceitou esse trabalho em primeiro lugar. Como ela poderia aceitar ser engolida por um dragão? Um dragão estúpido que não pode voar por conta própria, quem foi que inventou isso? Se querem que o dragão voe, que arranjem outro ou outra. Se querem que o dragão voe, que se virem. Se o dragão quer voar, o problema é dele. O problema é dele. Voar.

A protagonista sabe abrir a boca quando precisa

Talvez você seja uma pessoa extrovertida e não entenda muito bem a Hisone, ou talvez seja um introvertido de outro naipe, mas lidar com pessoas é realmente difícil, sabe? Só que, por outro lado, às vezes pode ser bom. Quero dizer, não é como se a Hisone não se importasse com outras pessoas, entende? Em alguns casos, pode ser exatamente o contrário. Mas é que é tão difícil. Você nunca entende as pessoas, você se machuca, você as machuca, e às vezes você nem sabe que está machucando ou o que está te machucando. É mais fácil evitar. Mas dá mesmo para passar a vida evitando contato com outras pessoas?

Talvez até seja, de alguma forma limitada, mas de novo, não é como se ela não se importasse com outras pessoas. Acrescentando essa dimensão moral à questão anterior, pode a Hisone, mesmo se importando com os outros, viver sua vida evitando para sempre o contato social? Para a sorte do dragão, que ainda não se chama Masotan, a resposta a qual ela chegou foi “não”. E ele pôde voar. E ela pôde voar. E ela voou, e eles voaram juntos, e naquele momento ela percebeu que tomou a decisão certa. Hisone ainda tem um longo caminho pela frente, ela está apenas começando a entender como se relacionar com outras pessoas por conta própria, não por obrigação, mas ela está mais ou menos confiante de que está no caminho certo. Se qualquer coisa, vale a pena só pela vista deslumbrante que ela tem quando está voando. Vale a pena até ser engolida e regurgitada pelos dragões do dia à dia.

WOW!

  1. Bem, eu como ex soldado categoria M10 (operador de material blindado) do 11º EsqCavMec (Esquadrão Anhanguera HOOOOO) e com a devida baixa honrosa rendo minhas homenagens a 2ª Ten da FAAJ (as insignias de patente da FAAJ estão disponiveis no Wiki gente, ela é 2ª tenente pelo visto) Hisone tem de ter muita coragem para passar por uma experiência dessa…Bato continência sem pensar para essa mocinha!!!
    Mas deixando protocolos militares de lado acho que temos um bom anime para assistir, e olha que na minha idade não permite muito disso pq quando ficamos mais velhos certas fantasias não tem tanto apelo, é bem legalzinho…Mas comparar a Megalo Box, pô…Mexicano aí tu exagerou, nada irá superar Megalo Box…KKKKK

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      São animes bem diferentes. Não dá para comparar apenas por causa disso. Citei Megalo Box pois escrevi as primeiras impressões dele também, e essa foi a sacada do meu começo de artigo. Estou gostando muito de Megalo Box e de Hisone to Masotan, e não acho razoável comparar a essa altura – até porque um já está no terceiro episódio enquanto o outro nem saiu o segundo traduzido ainda.

      Se quiser mesmo comparar, bom, ambos são histórias de jovens adultos buscando seu lugar no mundo. Ambos têm problemas, e ambos irão passar por provações – aliás, ambos já passaram por sua primeira grande provação, que foi o momento no qual tiveram que decidir entre tentar ser alguém grande na vida ou se contentar em continuar olhando apenas para o chão – e as metáforas visuais funcionam em ambos, note: Hisone decidiu voar, e Junk Dog/Joe decidiu não aceitar mais continuar vendendo a luta e sendo nocauteado. Mesmo que para isso ela tenha que sair de sua zona de conforto e ser engolida por um dragão. Mesmo que para isso ele tenha que sair de sua zona de (des)conforto e arriscar a vida. Mas as abordagens são muito diferentes, por isso apelam a pessoas diferentes.

      De um jeito ou de outro, sempre podemos admirar boas histórias =)

      Obrigado pela visita e pelo comentário!!

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      A princípio pode parecer que Hisone to Masotan apela mais para o público otaku mais casca-grossa, até pela escolha da roteirista (Mari Okada), mas não acho que vá ser o caso. A arte cartunesca é incrível e totalmente fora do padrão para um anime médio. Mesmo animes que ultimamente têm experimentado com estéticas diferentes, como Made in Abyss e Girls’ Last Tour, não foram tão longe quanto Hisone to Masotan foi.

      Como falou de Megalo Box no outro comentário, acrescento que gosto bastante da direção de arte e do character design dele. Aquela cara de “anime velho” está fenomenal!

      • Não existe “anime velho” somente os “clássicos” sobrevivem…Clássicos nunca morrem…Estamos vendo nascer outro “clássico”….

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Obviamente eu me refiro à estética, àquela aparência que vários animes de décadas atrás, os famosos e os esquecidos, tinham =P

      • Mas deixando otakices a parte, Made in Abyss e Girls last tour tinham uma carga dramatica superior a fantasia. O que não me parece ser o caso desse…Ainda…

        Mas demos uma chance a fantasia, não há nada melhor do que esses tempos bicudos que estamos vivendo agora…

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Girls’ Last Tour e Made in Abyss também eram adaptações, enquanto Hisone to Masotan é um anime original. Não espero twists de espatifar o coração ou mensagens niilistas porém estranhamente reconfortantes sobre o mundo vindos de Hisone to Masotan. Vai ser no máximo o dramalhão que já estamos acostumados da Mari Okada, o que pode ser muito bom.

        Falando em originais, Sora yori mo Tooi Basho vai ser difícil de bater … =P

      • Ahh! Akira, Ghost in the Shell, Cowboy Bebop a poluição visual que esses nos proporcionaram em contraste ao mundo clean de um Apple phone…O anime é uma trincheira estética!

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Nos três casos tem mais a ver com os temas das histórias do que com a época em que foram contadas. Dois cyberpunks e um space western, afinal.

      • Não sou um grande conhecedor da obra Mari, estou ainda embasbacado em Satoshi Kon, Katsuhiro Otomo (estamos esperando a sua nova obra Mr. KO) e agora em Makoto Shinkai. Mas “Sora yori…” é algo que estou me obrigando a ver em breve.

      • Historias magistralmente contadas…Bem, Akira foi o filme que me fez voltar a gostar de anime depois de um longo tempo. Ghost in the Shell ratificou e Cowboy Bebop cimentou…KKKKKK
        E é essa a magia dessa coisa chamada anime quando vc não gosta da estética do mundo a sua volta ou do cronos da sua vida o anime está aí para te salvar.

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Não gosto do filme de Akira. O mangá é tão melhor, e nem terminei de ler ainda. O filme pula muita coisa, a história ficou toda picotada, você precisa fazer esforço mental pra ligar coisa com coisa – ou só aceitar mesmo, e dane-se. Sou dez vezes o mangá.

        Já GitS o anime mudou basicamente o clima da história. O Masamune Shirow é muito mais falastrão. Ele só quer ver (e desenhar) mulheres bonitas e armas. A história está lá, é a mesma, mas o Mamoru Oshii a contou de uma forma muito mais interessante. Não acho uma ou a outra versão melhores, mas o trabalho do diretor em GitS foi incrível.

        Cowboy Bebop continua sendo a obra prima do Shinichiro Watanabe, então tem isso. Mas gosto bastante de Samurai Champloo também, não me peça para escolher um dos dois.

      • Entendo seu ponto de vista, mas é que na epoca o filme, que foi lançado no Brasil em 1989 e estava começando a publicação do mangá pela Abril em formato comics (aquelas revistinhas bem fininhas) como nos EUA em infinitas edições – só para constar o final de Akira nas bancas acho que só terminou uns cinco anos depois em 1994 se não me engano. Aquilo era de dar nos nervos tanto é que comprei a coleção completa americana (um amigo de epoca completou heroicamente o titulo vendido em banca e guarda a coleção num cofre) muito tempo depois e só agora esta vindo a brasileira no formato que deveria vir.

        Falando de contextos históricos, bem em 1989 em termos de animação de ponta ou vc ia ver “A Pequena Sereia” ou “Roger Rabbit” era bem dificil ver animação com tematica mais adulta naquela epoca. Anime então…Nem se falava…Por isso é que Akira é seminal.

  2. Pelo visto perdi uma grande conversa por aqui, mas vamos lá para a excelente estreia de Hisone to Masotan.
    Antes de passar mesmo para Hisone, tenho que concordar com a última frase do parágrafo de introdução, sem dúvida Megalo Box é excelente.
    O que posso dizer do primeiro episódio de Hisone to Masotan, ele foi bom (só para não dizer excelente), eu gostei tudo nele, desde da sua animação fora do normal às personagens (em especial a própria Hisone). Eu sei que muita gente, vai olhar de lado para este anime devido à sua animação diferente, essas mesmas pessoas vão perder um anime com um potencial enorme.
    Hisone tem tudo o que eu gosto de um anime, tem a fantasia com o dragão e o tema militar na parte das Forças de Auto-defesa (parece que o anime já me conquistou no primeiro episódio).
    As partes que mais gostei neste episódio, foi a parte do hospital, onde o general Sosoda explica através de desenhos,a relação de simbiose entre humanos e os dragões, eu ri tanto dessa cena, eu fui capaz de saber quais as eras as imagens representavam (desde do Comodoro Perry dos Kuro Fune ao Tokugawa Bakufu).
    A outra parte que gostei, foi quando a Hisone, conseguiu ver a imagem exterior, dentro da barriga do dragão, que cenário lindo. E mais lindo ainda, foi quando o dragão se transformou em um F-15 de quarta geração da Mitsubishi.
    Acredito que este anime tem um grande potencial, não só por ter a Mari Okada pelo meio, como tem o estúdio Bones, poucas foram as vezes que um anime da Bones me desapontou.
    Obrigado pelo artigo, de primeiras impressões de Hisone to Masotan Fábio. Com certeza irei acompanhar os teus artigos sobre Hisone to Masotan.

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