Tales of Zestiria the X 2 – ep 2 e 3 – O caminho da virtude é estreito
Pode a boa intenção, o sentimento bom, positivo, redundar no mal? Essa pergunta é retórica. Na vida, sabemos que sim. Tales of Zestiria já mostrou que sim também. Seja por causa do fanatismo ou do desespero, produzir o mal, ou mais mal do que bem, é sempre uma possibilidade real. No caso de Zestiria o pior resultado possível é a Malevolência.
Esses dois episódios serviram em primeiro lugar para desenvolver a Rose e explicar sua complicada relação com Dezel, o serafim do vento. E o final do terceiro episódio retornou à Alisha. A escolha não poderia ser melhor, já que as duas representam perfeitamente os dois pólos opostos já mencionados: Rose é uma fanática em sua missão de expurgar o mundo das pessoas más, enquanto a Alisha está desesperada tentando salvar seu povo sem nenhum dano colateral. As duas são movidas por boas intenções e, não obstante, produzem ou estão sob constante risco de produzir o mal. Como Pastor, é função do Sorey guiá-las.
Um anime que trata muito melhor sobre a origem do mal, também em cenário medieval fantástico, é Garo: Honoo no Kokuin. Nele, seres humanos são corrompidos e se transformam em horrores, que são basicamente demônios devoradores de pessoas. Bom, isso é válido para toda a franquia Garo, mas só assisti Honoo no Kokuin e Guren no Tsuki e recomendo mil vezes mais o primeiro, enfim. Pessoas más podem se transformar em horrores, logicamente. Pessoas em busca de poder podem se transformar em horrores. E pessoas boas, a depender das circunstâncias, também podem se transformar em horrores. E mesmo os horrores não são necessariamente sempre o tipo de demônio que esperaríamos: em um dos casos um jovem que gostaria de se tornar um médico se torna um horror, cedendo à sua própria incapacidade de salvar todas as pessoas. E ele se torna um horror médico, que efetivamente salva dezenas, centenas de vidas – mas ao custo de, de vez em quando, devorar um de seus pacientes. Eles iriam morrer de todo modo, não é? No final das contas ele está fazendo o bem, não está? Está?
O que o horror médico de Garo: Honoo no Kokuin faz não é assim tão diferente do que fazem Rose e seus Ossos ao Vento. Ela mata poucos para que muitos vivam. A diferença dela para o horror é que ela mata pessoas necessariamente más, que seriam responsáveis diretas pela desgraça daqueles que ela salva. Mas embora más, são pessoas saudáveis. Se o horror médico não matasse ninguém, ele também não salvaria ninguém. E aqueles que ele devora morreriam de qualquer jeito. Todos morreriam. Dependendo de como se interpreta cada caso, a Rose é mais diabólica que o diabo do horror.
Mas se entende que ela seja assim, criada por um saqueador e treinada desde cedo nas artes do assassinato. E essa é a origem de Dezel, o serafim que a segue também: ele acompanhava seu antigo pai adotivo e depois da morte dele passou a acompanhar e cuidar da garota. Parece ser uma espécie de amor paterno que ele assumiu no lugar do outro. E esse mesmo amor o faz tolerar os assassinatos da Rose e o levou a quase destruir a cidade – e se entregar à Malevolência – porque acreditou que essa era a vontade da garota. De novo, um bom sentimento gerando o mal. Felizmente ele foi detido pelos serafins de Sorey. Só que os problemas ainda não acabaram: Rose ficou balançada ao descobrir que um amigo havia morrido, vitimado muito provavelmente pelo mesmo bispo que ela recém-matara. Assassinato em nome da justiça? Matar um para salvar muitos? Você vê, quando muitos são todos desconhecidos, são quase o mesmo que ninguém. Mas quando um só é conhecido e próximo, a coisa muda completamente de figura. Ele matou, sim, o bispo. Mas não salvou seu amigo. Não impediu a dor de sua esposa. Ao final ela parece ter se decidido: e decidiu continuar ainda mais resoluta no caminho em que está.
Enquanto isso Alisha se vê em situação bem distinta mas igualmente atroz: perseguida por tropas de seu próprio país ela vê vários de seus companheiros morrerem diante de seus olhos. Sua forma de justiça levou a dor e a morte a todos eles, que ainda estariam vivos se não a estivessem seguindo e protegendo. Ela é parecida com Sorey e quer salvar todo mundo, então não é nenhuma surpresa que se inspire no Pastor para tomar sua decisão: tornar-se mais forte. Essa é a forma dela de continuar no mesmo caminho em que está. No meio das duas está Sorey. O que ele fará para impedir a queda de Rose e Alisha?
Kondou-san
Eu estou a gostar bastante desta segunda temporada de Tales. Principalmente por darem um pouco mais de foco à Rose, a personagem que eu mais gostei junto com a princesa Alisha. A Rose é daquele tipo de pessoas, que prefere matar o mal pela raiz, para salvar um número maior de pessoas, ela é tipo um Kiritsugu, que assassinava as pessoas do mal para salvar as pessoas inocentes. A Rose não acredita na utopia da princesa Alisha, a Rose sabe que é impossível mudar o status quo do país da princesa sem haver derramamento de sangue, mesmo que a princesa tente a todo custo que assim seja. Eu partilho a mesma visão da Rose, o mal tem que ser cortado pela raiz, se não se fizer nada, neste caso o tal Bispo, se ele não fosse eliminado, ele continuaria a roubar e a matar as pessoas que iam à sua igreja. Só tive pena, da morte do amigo da Rose, pelo estado que ela ficou, ele deve ter sido alguém importante na vida dela e na sua organização de comércio e assassinato.
Quem diria que o serafim do vento, Dezel, já conhecia a Rose desde esta era pequena. Quem diria que o mesmo considerava o pai adoptivo da Rose o seu melhor amigo, mesmo esse mesmo amigo sendo um saqueador. Também aqui na Idade Média, muitos dos bandidos tinham, mais moral, que os senhores que mandavam na Terra, o caso do pai da Rose deve ser um desses casos. O simples facto de o Dezel, estar disposto a ser corrompido pela malevolência em prol dos ideais da Rose, demonstra que ele que se preocupa e sente um amor fraterno pela Rose, esse mesmo amor é que o faz tolerar os assassinatos que a Rose faz. A Rose em criança era muito bonita, quem diria que esta mesma criança, se ia tornar em uma pessoa que assassina pelo bem das massas oprimidas pela igreja e pelos senhores.
Gostei da tua referência ao anime Garo: Honoo no Kokuin, que foi muito bom, um dos poucos que conseguiu, com que eu derramasse uma lágrima, aquela cena da Laura foi muito triste. Recomendo que vejas o filme do Garo que saiu, Garo Divine Flame que foi muito bom. É quase uma blasfémia referir o Guren no Tsuki, este estragou tudo de bom, que Garo Honoo no Kakuin fez de bom, além de ser muito repetitivo e com uma animação tosca.
Agora passando à Alisha, já fazia um bom tempo ela não aparecia, aquela cena de ela ser atacada pelos seus próprios aliados foi muito triste, mas tal coisa era bastante comum na Idade Média Europeia, onde os senhores mudavam de lado, como mudava de cuecas (eu sei este exemplo foi meio meh). Acho que deve ter custado muito à Alisha ver os seus homens a serem chacinados, mas ela já devia de saber que aquele nobre irritante que a quer ver morta, não vai desistir enquanto não tiver a cabeça dela numa bandeja. A cena em que ela, já num refúgio que ia em criança, e parece triste e começa a pensar nos seus ideais e questiona o que o Sorey ia dizer para ela foi muito bonito, eu acho que os dois poderiam ficar juntos, mas como o Sorey é bobo, acho que não rola esta situação.
O Sorey continua na mesma, ainda não evoluiu nada, ele tem que perder aquela ingenuidade que ele tem, claro que o clero e a nobreza de Rolance iam ficar com receio dos poderes dele, não podia ser de maneira diferente. Gostei do nobre Sergei, ele representa o cavaleiro com ideais de honra, mesmo tendo feito papel de parvo quando tentou prender o Sorey. Aquela cena do ramo de flores que o Sergei ia dar à Rose como pedido de desculpas, ele todo envergonhado e a Rose ainda se meteu com ele, ela gosta mesmo de brincar com os sentimentos dos outros.
E por fim, a animação continua linda, a qualidade visual das batalhas são magnificas e belas, o design dos personagens, principalmente das cavaleiros da princesa, é muito bonito, já para não falar do 3D de qualidade que o estúdio utiliza nas cidades. Aquele conflito entre a nobreza, neste caso o Sergei e o clero, com aquele tal Goldman vai ser bem interessante, aquilo que mais houve na Idade Média foram conflitos de poder entre a nobreza e o clero.
Como sempre mais um excelente artigo Fábio.
Fábio "Mexicano" Godoy
Nossa, não me lembre da Lala, estou no trabalho agora e quase me rolam lágrimas. Eu tinha certeza que ia dar tudo certo com ela por causa da abertura do anime, mas os roteiristas foram mais corajosos do que eu pude prever!
E dá para comparar o Leon à Rose, não é? Ele era alguém que lutava por vingança (por causa da mãe) até que aprendeu que aquilo era inútil e quase desistiu. Conheceu a Lala, que se tornou muito querida para ele e não apenas se recuperou como aprendeu a verdadeira virtude. E bem quando ele toma essa decisão se abate a tragédia. Naquela momento tudo poderia ter ido por água abaixo, mas ele conseguiu se manter no caminho reto. Já a Rose suja as mãos de sangue porque acredita que essa é a forma correta de fazer justiça, mas ficou tão abalada quando seu amigo morreu sem que ela pudesse fazer nada que Dezel interpretou mal seus sentimentos e atacou a cidade com fúria frenética. O pior para o Dezel foi evitado, mas a cena final da Rose deixa claro que agora não é mais por justiça, agora é pessoal. Agora é vingança. Estou exagerando ou ela seguiu os passos inversos aos do Leon?
A Alisha é muito mais simples e mais idealista, e por isso mesmo mais frágil – e mais perigosa. Tornar-se forte para proteger a todos? Manter a ordem e a paz à força? Me parece algo que déspotas esclarecidos tentam há séculos (e nA República Platão já havia teorizado seu Rei Filósofo há milênios). Vá lá, para ficção de fantasia medieval despretensiosa podemos aceitar, mas se fôssemos mesmo levar isso à sério as consequências do que Alisha planeja seriam enormes e muito piores do que qualquer dano que a Rose possa vir a causar.
O Sorey não parece que vá ter muito desenvolvimento não, ele é só uma referência de ponto de equilíbrio a essa altura, e deve continuar assim.
Obrigado pela visita e pelo comentário! =)
Kondou-san
Tens razão a Rose está a seguir os passos inversos do Leon. O Leon no inicio desejava a vingança, tanto dos Horrores, como das pessoas responsáveis por matarem a sua mãe na fogueira (coisa típica da Inquisição). Até que o Léon conheceu a Laura e a sua família e teve, diga-se de passagem a um momento de reflexão de tudo o que tinha feito até então. Aquilo que mais doeu, pelo menos para mim, foi o facto da Laura ter perdido a sua vida naquele momento tão importante na vida do Léon, o Léon mudou por ela, isso e pelo facto que a vida do Léon esteve repleta de tragédia. Mesmo assim o Léon encontrou um motivo para usar bem a armadura dourada para o bem das pessoas, que se viam ameaçadas pelos Horrores, a Laura foi a chave que faltava na vida do Léon, para que este encontrasse a sua vocação como cavaleiro Makai e não só, a compreensão que a vingança que ele almejava, só traria desgraça e o estúdio nisto fez um excelente trabalho. Já a Rose, matava os maus, porque tinha que ser, mas agora que o Bispo lhe matou o amigo, ela vai entrar no caminho errático que se chama vingança e como tu bem referiste, agora a força motriz das acções da Rose é apenas a vingança. Estou curioso com este amigo da Rose, ele devia ser bem importante para ela. Este anime continua com uma das coisas que mais me irritava na primeira temporada, a falta de sangue, principalmente nos confrontos entre exercitos, eu sei que é um anime para maiores de 13 anos, mas um pouco mais de sangue não fazia mal algum.
Se eu tivesse que atribuir uma palavra para as acções da Alisha, é a utopia, aquilo que ela quer fazer é impossível, não haver mortes, mudanças do status quo do país dela. E se ela cair no erro de impor a ordem pela força, a desgraça vai ser maior ainda.
Fábio "Mexicano" Godoy
É um anime bem menos pretensioso, adaptado de um game massificado para adolescentes. Eu realmente gostaria de ver um pouco mais de consequência para os atos e tragédias mas entendo que não veremos muita coisa. Achei que a Lailah e o Dezel haviam arruinado a cidade mas que nada, só danificou um pouquinho os muros. Então tá, né.
Kondou-san
As muralhas da cidade de Rolance pareciam peças de lego, a maioria das muralhas medievais não eram construídas com tijolos uniformes, geralmente eram pedaços de pedra maciça talhada à mão, nenhuma pedra ficava igual. Só a China é que foi primeiro país do mundo a usar tijolos padrão nas suas muralhas e castelos, o caso mais famoso é a Muralha da China. O poder da Laila é muito bonito, aquela bola de fogo, parecia que ia explodir a cidade inteira.
Fábio "Mexicano" Godoy
E pelo tamanho dela e pelo efeito especial, deveria ter explodido mesmo =D