O arco misterioso sobre a identidade do traiído da seita Myoda acabou bem cedo até. Com as pistas apresentadas de forma coesa e o mistério se resolvendo exatamente por meio delas, ao invés de fatores externos alheios. Ao telespectador é surpreendente o quão legítimo esse primeiro arco se saiu como mistério (Boku dake devia aprender uma coisa ou outra com Blue exorcist pra pelo menos fingir mistério direito).

Nesse episódio dificilmente temos grandes eventos além da descoberta do nosso culpado a partir de Juzo, nosso incrível “xeroque rolmes” do momento. Ele que sempre desconfiou de Mamushi. Por simplesmente não suportá-la não conseguiu ficar parado ao ver o quão obviamente culpada ela era de tudo que estava ocorrendo e, por isso, nesse artigo, vou dar um enfoque especial a justamente o que configurou o mistério de Blue exorcist.

Primeiro vamos deixar claro que Ao no Exorcist não é um anime de mistério. Não há um morto, somente um caso misterioso, não temos detetives claros, apesar de termos o testemunho qualificado de Juzo e suas conclusões diretas. Temos 3 irmãs quase trigêmeas, muitos poderes sobrenaturais e um bando de japoneses (Knox-kun deve estar se revirando em seu túmulo enquanto me vê escrevendo que isso qualificou como mistério).

O gênero mistério foi construído por diversos autores e vem da noção de que é divertido para o leitor que ele teste suas capacidades intuitivas para resolver um crime enquanto lhe são apresentadas as pistas. No fim das contas, muitas fórmulas prontas foram criadas e inclusive autores conservadores como Van dine e Knox tentavam perpassar “leis para um mistério ideal”  (ainda que Knox estivesse com certeza de sacanagem quando escreveu suas “leis”). Tais regras tinham sua lógica para determinadas situações (ou não faziam o menor sentido para outras) e você pode observar ambas aqui .

Entre as mais famosas de Knox, temos que o detetive não pode ser o criminoso e que Chineses não podem figurar em histórias de mistério (eu realmente acho que ele estava brincando…mas talvez seja porque os famosos venenos chineses eram um tipo muito fácil de rota de escape para como o crime seria cometido). Van Dine, como autor mais sério, acreditava em coisas como “crimes devem ser de cunho pessoal e não por culpa de uma organização aleatória tirada de sabe-se lá onde” ou que “deve haver pelo menos um corpo para que o caso tenha o impacto necessário para suas centenas de páginas”.  Ao observar todas elas, por exemplo, tenho certeza que se um deles escreve um mistério como ANE, o fato de Tatsuma ser suspeito por conta de chamas espirituais e ritos estranhos já o cortaria da lista de possíveis assassinos.

Apesar de claramente faltar diversos fatores para que figure em um mistério puro como idealizaram Knox e Van Dine, esse arco está de uma forma até que bem acessível dentro de um mínimo entendimento do gênero. Afinal, é inegável que haviam pistas nos últimos episódios que apontavam mais fortemente para Mamushi do que para todos os demais, salvo, talvez, o Tatsuma, que mesmo assim era vítima de boatos maldosos (pistas essas que inclusive eu fui recolhendo nos últimos artigos), o que dava espaço mais que o suficiente para chegar a uma conclusão razoável de quem deveria ser o culpado. O que por si só já é um ponto bem interessante de se analisar.

Acho que principalmente o fator que esse arco cobre de uma forma bem bacana é o whodunit,howdunit e whydunit. Esses são, respectivamente: “quem é o culpado, como ele é o culpado e por que ele é o culpado”. Todos os tópicos são de alguma forma implícitos ou explícitos de sua própria forma e podem ser averiguados por quem assistiu o anime. No primeiro episódio temos Todo capturando o olho esquerdo, o ligando ao caso da seita Myoda por razões óbvias. Para atiçar ainda mais o óbvio, foi dito que Mamushi, Juzo e Todo já possuíam contatos, porém, só um deles agiu de forma extremamente suspeita durante o procedimento das investigações: Mamushi, que claramente gostava da Seita Myoda mas que claramente reprovava o monge Tatsuma. Logo, a conclusão lógica seria “Mamushi e Todo se uniram para pegar o olho e assim fazer com que a seita Myoda voltasse a andar pelos trilhos que Mamushi acreditava que ela deveria seguir”.

Dito e feito, ainda tivemos o extra da revelação do Rin como filho de satã pondo ainda mais peso nas palavras que Mamushi ouviu e na veracidade de suas suspeitas para com Tatsuma que supostamente deu o olho esquedo a Mephisto, para que pudesse controlar o crescimento do Rin (o que até onde sabemos é mentira, mas ela não sabe disso). Para Mamushi, Todo está sendo sincero com ela e só quer que ambos se ajudem reciprocamente, o que realmente não parece ser o caso para Todo.

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